Comédia com bom roteiro
Pode parecer uma afirmativa sem sentido, mas uma boa comédia deve ser levada a sério. Isso é reafirmado pela equipe de A Casa das 3 Irenes, que Zé Adão Barbosa dirige, a partir de roteiro de Luis Francisco Wasilewski, com cenografia de Thiago Sebastiá, figurinos - caprichadíssimos - de Naray Pereira e adereços de João Carlos Castanha, mais a iluminação de Leandro Gass. Trata-se de uma situação interessante e curiosa: três antigas artistas do teatro rebolado, dos primórdios do rádio e da televisão brasileiros, reunidas em uma casa de retiro de artistas, relembram seus velhos tempos.Luis Francisco fez boa pesquisa histórica, houve uma tentativa de recriação de vozes e climas de antigos programas radiofônicos, e A Casa das 3 Irenes, assim, ganha todo um contorno de espetáculo bem-cuidado e bem-acabado, inclusive com as boas soluções cênicas que o cenário permitiu.Lauro Ramalho está impagável, quer ao retomar velhas criações, como a de Maria Bethânia, em que é insuperável, quer ao representar outros tipos mais recentes. Caio Prates renovou seu repertório e acerta em repetir a criação baseada em Julie Andrews de A noviça rebelde, sem dúvida um de seus melhores momentos, ainda que as criações de tipos ingênuos e inquisitivos sejam sempre extremamente eficientes e cômicas. João Carlos Castanha tem bons momentos ao longo de todo o espetáculo, mas é especialmente feliz nos primeiros momentos, quando vive dramaticamente recordações de sua mocidade. Aliás, é curioso que se note que ele é o único intérprete verdadeiramente dramático, além de cômico, dos três, já que Caio Prates e Lauro Ramalho são essencial e, eu diria, exclusivamente cômicos.Por tudo isso, o espetáculo de pouco mais de uma hora de duração tem tudo para agradar, na base da paródia e da brincadeira. No entanto, há momentos em que o roteiro baixa o nível e faz algumas apelações de mau-gosto. Não se trata de moralismo, por favor. O teatro está ocupado por adultos e, portanto, não há este tipo de preocupação. Mas o mau-gosto é sempre o cômico - ou o ridículo - fácil. Por exemplo, na entrada de Castanha após um strip tease parcial, o movimento rápido que se segue é engraçado. A insistência na cena faz com que ela perca sentido e decaia na qualidade. Um palavrão bem-colocado, solto aqui e ali, é engraçado, às vezes até pelo inesperado de seu aparecimento. Mas sua reiteração acaba por tirar-lhe a força. Essa questão da medida é preciso que receba uma atenção muito grande de criadores de roteiros de comédias, sob pena de se perder o próprio efeito da comicidade. Em A Casa das 3 Irenes, como se disse, há excelentes achados cômicos, mas há, também, estas quedas desnecessárias, até porque o roteiro é bom e os intérpretes, todos eles, excelentes.De qualquer modo, o espetáculo é pensado enquanto divertimento e, enquanto divertimento, ele agrada. Têm razão os que defendem o direito de grupos teatrais realizarem este tipo de trabalho sem qualquer policiamento ou crítica. Há públicos variados e, mesmo quem goste de um espetáculo dramático mais profundo, necessariamente não desgosta de uma comédia leve e divertida. Prestigie-se, pois, este tipo de espetáculo, que traz público ao teatro e que serve para distraí-lo dos problemas cotidianos.
Pode parecer uma afirmativa sem sentido, mas uma boa comédia deve ser levada a sério. Isso é reafirmado pela equipe de A Casa das 3 Irenes, que Zé Adão Barbosa dirige, a partir de roteiro de Luis Francisco Wasilewski, com cenografia de Thiago Sebastiá, figurinos - caprichadíssimos - de Naray Pereira e adereços de João Carlos Castanha, mais a iluminação de Leandro Gass. Trata-se de uma situação interessante e curiosa: três antigas artistas do teatro rebolado, dos primórdios do rádio e da televisão brasileiros, reunidas em uma casa de retiro de artistas, relembram seus velhos tempos.Luis Francisco fez boa pesquisa histórica, houve uma tentativa de recriação de vozes e climas de antigos programas radiofônicos, e A Casa das 3 Irenes, assim, ganha todo um contorno de espetáculo bem-cuidado e bem-acabado, inclusive com as boas soluções cênicas que o cenário permitiu.Lauro Ramalho está impagável, quer ao retomar velhas criações, como a de Maria Bethânia, em que é insuperável, quer ao representar outros tipos mais recentes. Caio Prates renovou seu repertório e acerta em repetir a criação baseada em Julie Andrews de A noviça rebelde, sem dúvida um de seus melhores momentos, ainda que as criações de tipos ingênuos e inquisitivos sejam sempre extremamente eficientes e cômicas. João Carlos Castanha tem bons momentos ao longo de todo o espetáculo, mas é especialmente feliz nos primeiros momentos, quando vive dramaticamente recordações de sua mocidade. Aliás, é curioso que se note que ele é o único intérprete verdadeiramente dramático, além de cômico, dos três, já que Caio Prates e Lauro Ramalho são essencial e, eu diria, exclusivamente cômicos.Por tudo isso, o espetáculo de pouco mais de uma hora de duração tem tudo para agradar, na base da paródia e da brincadeira. No entanto, há momentos em que o roteiro baixa o nível e faz algumas apelações de mau-gosto. Não se trata de moralismo, por favor. O teatro está ocupado por adultos e, portanto, não há este tipo de preocupação. Mas o mau-gosto é sempre o cômico - ou o ridículo - fácil. Por exemplo, na entrada de Castanha após um strip tease parcial, o movimento rápido que se segue é engraçado. A insistência na cena faz com que ela perca sentido e decaia na qualidade. Um palavrão bem-colocado, solto aqui e ali, é engraçado, às vezes até pelo inesperado de seu aparecimento. Mas sua reiteração acaba por tirar-lhe a força. Essa questão da medida é preciso que receba uma atenção muito grande de criadores de roteiros de comédias, sob pena de se perder o próprio efeito da comicidade. Em A Casa das 3 Irenes, como se disse, há excelentes achados cômicos, mas há, também, estas quedas desnecessárias, até porque o roteiro é bom e os intérpretes, todos eles, excelentes.De qualquer modo, o espetáculo é pensado enquanto divertimento e, enquanto divertimento, ele agrada. Têm razão os que defendem o direito de grupos teatrais realizarem este tipo de trabalho sem qualquer policiamento ou crítica. Há públicos variados e, mesmo quem goste de um espetáculo dramático mais profundo, necessariamente não desgosta de uma comédia leve e divertida. Prestigie-se, pois, este tipo de espetáculo, que traz público ao teatro e que serve para distraí-lo dos problemas cotidianos.
ASS: Antônio Hohlfeldt
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